terça-feira, 5 de julho de 2011

Escrever, escrever, escrever...

            Vocês que estão nos acompanhando já perceberam que aos poucos estou postando as produções dos alunos, mesmo não seguindo rigidamente uma ordem cronológica. Os textos podem parecer à primeira vista pequenos, mas foi um grande percurso até a última produção do semestre.
            No início do ano os alunos produziam poucos textos, diziam sempre estar “sem ideias”, não sabiam como começar os desafios, possuíam vários erros ortográficos, dificuldades em segmentar o texto em palavras e os usuários do Braille, principalmente, conheciam poucas letras, pontuações e acentos deste sistema. Soma-se à problemática, o pouco contato que tenho com seus professores do ensino regular e as poucas possibilidades de trocas de saberes e experiências, algo que precisava ser alterado.
Sabemos que uma escola inclusiva privilegia as relações de cooperação e respeito entre os alunos, pais, educadores e a comunidade de forma ampla, mas deve ficar claro que estamos iniciando um trabalho, conhecendo pessoas, fortalecendo laços e a inclusão é realmente um processo...
Não podia esperar a parceria SAAI/escola regular surgir do nada, era preciso criar formas de promovê-la. A idéia do Blog partiu do Gabriel, um de meus alunos, que quer simplesmente que o mundo o ouça.
Ele sempre diz que é preciso que as pessoas compreendam suas dificuldades, mas mais do que isto, que acreditem em seu potencial. Ele tem apenas 13 anos!
Como professora, além da preocupação com a mudança de atitude frente à deficiência visual, pensei no Blog como uma forma de diálogo com as diferentes instâncias que atende estes alunos e vislumbrei este instrumento como uma excelente forma de estimulá-los a ler e escrever. Escrever, escrever, escrever...
Todas as produções do semestre são norteadas pela temática da deficiência visual. Pesquisamos o que é uma deficiência visual, pessoas famosas que possuem esta deficiência, literaturas sobre o tema, a legislação, o que estes sujeitos precisam para aprender melhor, notícias, fizemos a propaganda do blog, observação de outro blog, escrevemos uma carta para os professores e até mesmo lemos piadas sobre cegos, como a que consta acima. Ufa! Lembrando que encontro com os alunos duas a três vezes por semana e ainda precisamos trabalhar com outras questões como atividades relacionadas à assinatura do nome, o soroban, a orientação e mobilidade e não esquecendo é claro do lazer!
            Em minha dissertação de mestrado já havia concluído que independentemente de ter ou não uma deficiência, todos participam de uma maneira ou de outra da sociedade letrada. Todavia, pessoas com deficiência visual encontram limitações para o aprendizado da leitura e escrita em seu uso cotidiano, devido às dificuldades impostas pela sociedade e o desrespeito às peculiaridades dessa parcela da população: o sistema braille não faz parte do dia-a-dia e ainda não é reconhecido e estabelecido socialmente pela população.
             Segundo Ferreiro e Teberosky (1985 e 1997), crianças que não vivem experiências com livros e materiais escritos iniciam sua escolarização com poucos conhecimentos sobre a língua. Para as pessoas com deficiência, muito pior do que não ter acesso a portadores de textos, de ter problemas orgânicos, é o descrédito de suas potencialidades e da previsão de seu insucesso pelos pais, pela comunidade e por si mesmos.
O Blog motivou os alunos a escreverem. Sempre começamos com um texto trazido por eles ou escolhido por mim. Não é uma processo rígido, mas trilhamos mais ou menos este roteiro:

·         Realizamos a leitura dos diferentes textos, em Braille ou em tinta;
·         Localizamos as principais informações dos textos;
·         Realizamos um momento para um debate sobre o tema. Todos possuem o seu momento de falar, de responder perguntas, de formular questões, de dar opiniões...
·         Planejamos o que vamos escrever, realizamos rascunhos;
·         Produzimos textos em grupos, em duplas... Às vezes eu sou a escriba...
·         Atenção especial ao código Braille;
·         Revisão do texto do ponto de vista ortográfico, o uso de letras maiúsculas e minúsculas, repetições desnecessárias e preocupação com a concordância verbal e nominal.


Prestigie.
Boa leitura!



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